Alguns dizem que a atividade é desumana e lembra trabalho de escravos. Outros afirmam que é melhor ter um carrinho do que não ter nada
A Câmara de Vereadores decide hoje o futuro dos carrinheiros — catadores de material reciclável que, depois da proibição das carroças, encontraram nos carrinhos a única alternativa para carregar o que recolhem.
— Não é possível que, em pleno 2017, pessoas continuem puxando carga feito escravos debaixo do sol — diz o vereador Idenir Cecchim, líder da bancada do PMDB. — Eles mexem no lixo sem luvas, arriscam-se a ser atropelados e a pisar em cacos de vidro. É uma coisa desumana.
Uma lei proibindo os carrinhos já foi aprovada na Câmara. Mas, como centenas de famílias seguiram dependendo da atividade, o vereador Marcelo Sgarbossa (PT) apresentou neste ano um projeto que prorrogaria até 2020 o prazo para a legislação entrar em vigor.
Marchezan vetou a proposta de Sgarbossa. E hoje a Câmara decide se derruba o veto do prefeito ou se mantém a proibição dos carrinhos.
— De fato, é uma atividade penosa, mas a gente aprende que, quando se direciona uma política para alguém, é importante ouvir esse alguém. E os catadores estão contrariados — afirma Sgarbossa.
Ele parece ter razão. Embora o vice-prefeito Gustavo Paim garanta que a prefeitura atuará na inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho — e não irá multá-las nem arrancar delas os seus carrinhos —, o catador Alex Cardoso diz que a lei exclui em vez de incluir.
— O carrinho é um equipamento que é melhor ter do que não ter — assegura ele, que é membro do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. — A estrutura que nós temos é reflexo da parceria que o município mantém com a gente. Se não existe parceria, os catadores são excluídos, perseguidos e proibidos. Se existe parceria, eles são contratados e pagos pelo seu trabalho, e aí se vê catadores organizados, uniformizados, com luvas, orientando a população a fazer a coleta adequada.
Alex Cardoso lembra que a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, obriga os municípios a priorizar cooperativas de catadores, e não empresas, em seu sistema de coleta seletiva:
— Dependendo da parceria, a coleta pode ser feita de carrinho elétrico ou até de helicóptero.
Fonte: ZERO HORA