Por Adriano Mazzarino*
Começou a campanha eleitoral. Observei isto recentemente.
Em Lajeado/RS e Porto Alegre/RS, determinados setores abriram o “fuzilamento” contra os vereadores. E, por incrível que pareça, em alguns casos, se constrangeram pelo contraponto dos citados que decidiram se defender das críticas e ofensas.
Os críticos fizeram o cálculo bruto da soma dos salários e a produtividade do poder Legislativo. A tese merece consideração e respeito, mas carece de outras leituras e análises.
A crítica foi agressiva contra os vereadores pois globalizou. O argumento é que o custo é alto. E que a vereança, como sugestão, deva ser gratuita. Como poesia, a ideia funciona, mas na prática, há controvérsias: ou seja quanto vai custar um vereador gratuito? Quantos assédios terá na hora de votar?
Em cidades como Gramado ou Florianópolis, por exemplo, e de forma hipotética, de grandes interesses imobiliários, quantas propostas “secretas” receberá um vereador?
Se neste atual formato há acusações, piadas, suposições, fofocas de casos que envolvam favorecimentos ou corrupção é de imaginarmos quantos fatos então possam envolver decisões sem remuneração dos autores.
A honestidade não é um item que precisa ser remunerado. Ser honesto é um dever do homem público, porém, a ingenuidade não é um bom mantra no campo da política. Dar a sugestão da gratuidade é um risco.
Outro detalhe que não se observa: uma câmara de vereadores é um laboratório de lideranças.
Exemplo: Carmen Regina, Cláudio Schumacher, lideranças e ex-prefeitos de Lajeado, foram vereadores antes de chegarem ao poder Executivo como prefeitos. São escolas de conhecimento adquiridos com o tempo, uma boa escadaria que vai agregando valores. Experiências que vão permitindo menos vaidade e mais foco, numa gangorra que só tempo equilibra.
Outra observação: Enio Bacci, Luís Fernando Schmidt, Daniel Fontana (por 15 dias), antes de terem sido deputados, foram vereadores. São universos de lideranças em diversos formatos. Dá para fugir deste estágio de introdução na política? Sim! Quanto custa? Não sei, mas exemplifico.
Dentro deste contexto lajeadense anterior cito também Erni Prety, ex-prefeito. Quando assumiu a cadeira na Assembleia Legislativa sentiu a ausência da experiência de vereador que não teve. Petry disse isto em entrevista numa avaliação após ter deixado a política. Ao ir direto do sindicalismo para a cadeira de prefeito percebeu que no exercício do poder o legislativo serve de filtro para o diálogo (e o conflito) até chegar na maioria soberana das decisões.
Em paralelo vou para a Serra. Estou em Bento Gonçalves, em abril deste ano. Estava cobrindo uma pauta onde quatro novos deputados federais estavam presentes. Entrevistei todos. Um deles, segundos antes da entrevista ser gravada, virou-se para o assessor e perguntou qual era o tema do encontro. E era uma liderança que veio da iniciativa privada.
A única entrevista com objetividade nas respostas foi de um deputado federal em novo mandato, mas que tinha sido deputado estadual. Ou seja, a experiência é importante.
Quando você procura um mecânico, um vendedor, um médico, você escolhe por experiência, boa reputação e qualificação.
Um vereador não deve ser diferente, entretanto, ninguém nasce vereador. Para tal é necessário preparo, informação e conhecimento.
Em um jantar em 2018, um aniversário, sentei ao lado de um vereador do Vale do Taquari. Ele era servidor federal, discreto e centrado. Estava no final do primeiro mandato. Na conversa informal, mas objetiva, ele comentou: “Só agora eu estou começando a entender o papel do que é ser vereador”.
Ele confessava, de forma discreta, que durante três anos e meio foi um estagiário. Então é necessário conhecimento. Caso contrário, o edil fica refém do assessor jurídico, ou do assessor de imprensa ou da diretoria interna da casa, ou ainda, dos donos do partido, dos interesses do prefeito (legítimos ou não).
Elas, as assessorias, são peças importantes, porém, na omissão ou despreparo do vereador pode haver inversão de papéis.
Faço debates e palestras sobre comunicação, muitas delas para vereadores e assessores, e percebo as dificuldades deles entenderem os fatos onde estão envolvidos independente do nível cultural. O motivo é que eles não foram preparados pelas siglas para serem comunicadores da política, das suas ações e do poder que representam, seja na tribuna, na imprensa, nas redes, na comunidade.
É uma construção que só o exercício do mandato permite elaborar, com erros e acertos, onde nem todos conseguem superar ou perceber tal carência e dificuldade. Iletrados e pós-graduados são do mesmo tamanho no campo da política. O voto os fez iguais. Cada um deles tenta oferecer o melhor de si para as comunidades: eles são o produto dos votos das suas aldeias.
Há os omissos, há os desinteressados, mas a maioria não pode pagar por eles. Há casos de problemas de excesso de diárias, de ausência de plenário, de omissão na tribuna, de alienação para com o cargo, de despreparo técnico. Sim, existem. Porém, a fuzilaria gratuita de pegar alguns e diversos casos para “fuzilar” no todo é de inteligência duvidosa.
Bater em vereador como coletivo de um poder sob o argumento de “inútil, caro, omisso, desnecessário” é uma demonstração de desconhecimento, ou maldade, sobre o império da cidadania.
Os vereadores devem ser observados sim, e cobrados sempre. Se candidataram para tal. Decidiram ser públicos 24 horas por dia ao longo de quatro anos, portanto que assim se comportem.
O momento político é de transparência, a sociedade sinaliza que assim quer. Creio que o respeito ao exigir e cobrar qualifique o debate, a cidadania e a sociedade.
As cidades, os povos, as tribos precisam de lideranças. A “fuzilaria” é um bom argumento para quem vende armas, então, cautela ao puxarmos o gatilho. O tiro, cedo ou tarde, cai no nosso pé!
*Adriano Mazzarino, jornalista, blogueiro e consultor de marketing