Durante três dias, a vereança do Paraná contou com palestras de especialistas e grandes nomes da política brasileira. A questão feminina nas Câmaras e as condições adversas da mulher como agente publica foram os temas chave do encontro. Tratou-se também de assuntos relacionados a comunicação, neurociência, imagem, redes sociais, eleições 2020 e mais
Entre os dias 3 e 5 de julho, cerca de 100 vereadoras e servidoras do Paraná se reuniram no 1° Fórum de Mulheres da Uvepar, em Curitiba. Diversos especialistas e lideranças palestraram sobre temas relacionados a legislação eleitoral, fundo partidário, participação feminina na política, comunicação, neurociência, empoderamento, violência contra a mulher e causa animal. Confira o que aconteceu em cada um dos dias.
Na quarta-feira
O fórum começou com a participação do jornalista Adriano Mazzarino, falando sobre papeis sociais de gênero, as mudanças que tem acontecido nos últimos anos e a conquistas femininas por mais espaço. A comunicação visual também foi um dos principais temas, trazendo reflexões sobre o poder da imagem ao comunicar ideias.
Na quinta-feira
No início na manhã, a advogada Jeanine Benkenstein falou sobre neurociência, contextualizada dentro do momento político atual e no dia-a-dia da vereadora. Jeanine falou sobre autoestima da mulher perante um ambiente hostil a elas, trazendo ferramentas de coaching para uma comunicação mais segura. Ajudando as participantes a entender sobre socialização, abordou a empatia e a compreensão como uma forma de relacionamento em situações de conflito. “É necessário pegar os óculos de outra pessoa, olhar pelos lestes dela, e se colocar no lugar”, disse.
Explicou também, a partir de pesquisas em neurociência, os padrões de pensamento social que mudam conforme gerações. Citando pesquisas na área, explicou que a sociedade varia o padrão de pensamento entre “liberdade” e “ordem”, o que gera ciclos de escolha de representantes políticos com maior diálogo e mais autoritarismo, alternadamente.
O palestrante Karl Gelbecke, publicitário com experiência em comunicação para órgãos públicos, falou sobre os desafios deste tipo de trabalho e as opções para uma comunicação eficiente. Como dica para o uso de redes sociais, Gelbeck explica que além de política e trabalho, coisa pessoais também geram grande engajamento. “Facebook é um canal para mostrar não só o seu trabalho na Câmara, mas é também um canal de comunicação de pessoa para pessoa. (..) as pessoas também querem saber o que você está fazendo em seu tempo livre”, sugere Gelbeck. Ele explica também que uma boa tática para comunicar o trabalho de um órgão público é usar de temas gerais, como datas comemorativas ou causas, como pretexto para divulgação.
Na pessoa de Moisés Pessuti, membro fundador e ex-presidente do Instituto Paranaense de Direito Eleitoral (Iprade), juntamente com as advogadas Ana Carolina de Camargo Clève
Emma Roberta Palú Bueno, debateram legislação eleitoral, fundo partidário e regulamentação da cota para mulheres nas candidaturas.
Discutiu-se a necessidade de uma regularização das cotas e a necessidade da sua aplicação em candidaturas proporcionais para uma maior eficiência na representatividade feminina. Como uma forma de se combater falsas candidaturas femininas, aconselhou-se que as vereadoras percebam se em seus partidos há mulheres que não queiram ser candidatas, e mapear as que desejam, para assim ficarem atentas ao uso de laranjas.
Com um tema especial, a vereadora de Curitiba Fabiane Rosa falou da bandeira que a trouxe à vida pública: a causa animal. Ela explicou para as vereadoras que, para garantir que haja avanços neste setor nos municípios, recursos para a causa animal devem estar inseridos da LDO, pois muitos dos gestores e vereadores não possuem a sensibilidade necessária para levar a diante esta causa.
Ela explicou algumas leis de sua autoria e alertou para políticas públicas que nem sempre representam um avanço nos direitos dos animais. Ela denominou alguns abrigos públicos como “prisões de inocentes”. “Abrigamento não é a solução. Tem que punir quem maltrata e abandona (…) Solução é a castração e a microchipagem”, disse. E sobre as dificuldades de aprovação de legislação sobre causas poucos visíveis no parlamento, ela dá um conselho as vereadoras: “Sejam fieis aos seus eleitores. Continuem lutando”.
O presidente da Uvepar, Júlio Makuch, foi o último palestrante do dia. Falou sobre renovação e as perspectivas para 2020. ‘Se estivermos fazendo a mesma coisa que os outros, estamos no mesmo pacote. Resultado: Fora!”, explicou, de forma enfática, sobre a necessidade que a população tem de renovação na política. “A vereança tem que propor mudanças. Temos que fazer uma autocrítica, pois a sociedade está cansada de ver sessões vazias”, se referindo a trabalhos e discussões sem efeitos práticos no município.
Nessa necessidade do novo, Makuch se estendeu sobre o movimento para a diminuição da máquina publica. Outro assunto discutido foi a desinformação com relação a política da população. Nesse sentido, cabe também ao vereador, segundo ele, ajudar a propagar a verdade e levar discussões importantes.
Na sexta-feira
As deputadas federais Margarete Coelho (PP) e Leandre dal Ponte (PV) foram presença especial no fórum na manhã da sexta-feira. Ambas trouxeram suas lutas pela causa feminina na Câmara dos Deputados. Margarete falou sobre as cotas para mulheres nas candidaturas e o quão desafiador foi a conquista deste espaço através da lei, apenas da resistência de parte dos parlamentares homens. “A cota das mulheres não entrou na legislação porque aquela legislatura foi boazinha. Mas porque o Brasil assinou o pacto de Pequim, que obrigava ele a ter estas políticas de inclusão. E a forma de inclusão que o Brasil e os outros países que são signatários foi exatamente a questão da cota. E o Brasil lançou uma cota para fazer de conta e aumentou o número de candidatos em 20%”, explicou Margarete.
A deputada Leandre também compartilhou de seu trabalho à frente da questão feminina, e palestrou sobre a disparidade de gênero dentro de órgãos internacionais, mostrando que a luta pela representatividade feminina na política é uma necessidade global. Para ela, devido a situação distinta do público feminino, este precisa de ações que gerem maior oportunidade, trazendo equidade dentro das casas legislativos e em outros órgãos. “Nós precisamos fazer com que as mulheres, em especial, voltem a acreditar na política (…) Hoje as mulheres são mais da metade do eleitorado. Somos 52%, mas ainda em 1291 municípios onde não existe uma vereadora. Fica bastante difícil”, disse.
Vereadoras também foram á frente para falar de suas experiências ao longo da campanha e do mandato, e das bandeiras que as fizeram se candidatar. Trouxeram reflexões sobre o dia-a-dia nas câmaras de seus municípios e suas percepções sobre a condição da mulher vereadora.
Por fim, representantes da Procuradoria da Mulher da Câmara dos Deputados esclareceram sobre o trabalho do órgão e a sua necessidade. Explicou-se que a procuradoria não é responsável por denúncias, não tendo o papel de delegacia, mas acompanha casos já em tramitação que não se desenrolam de maneira a garantir a segurança da mulher e a justiça. Vereadoras foram instigadas a aderir ao movimento em suas cidades.
Marcando o último dia do Fórum de Mulheres da Uvepar, membros da entidade, vereadoras, as deputadas federais e representantes de outros órgãos assinaram o pacto pelo enfrentamento a violência contra a mulher no estado do Paraná.
fonte: www.uvepar.com.br