Dependência de álcool atinge até 10% da população brasileira
— 01/11/2017O psiquiatra Leon Garcia, do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) e do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) da Sé, participou, em 19 de outubro, da nona edição do programa “Encontros na Escola de Contas”. O professor falou ao jornalista Florestan Fernandes Jr. e ao sociólogo Jessé Souza sobre política de drogas, que tem como vilão o álcool.
Segundo Garcia, este constitui o maior problema da dependência de substâncias psicoativas do ponto de vista da saúde pública. “De 6 a 10% da população adulta brasileira têm problema com dependência de álcool. O perfil é predominantemente masculino, mas atinge todas as classes sociais, com consumo intenso entre os jovens”, afirmou. O crack, por sua vez, está presente em 0,6% da população das capitais brasileiras. “Quando olhamos para o perfil dessa população, vemos que 80% são homens negros e pardos que não chegaram ao Ensino Médio, e 50% deles estão morando nas ruas e são egressos no sistema prisional. Isso mostra que a extrema vulnerabilidade social deles antecede o uso da droga”, relatou o especialista.
Com isso, nasce a necessidade de políticas públicas que atendam essa parte da sociedade. “A dependência de um jovem que mora em São Paulo, publicitário, por exemplo, que compra a droga por telefone e que a recebe em casa, nunca irá a favela e terá que entrar em contato com qualquer situação de violência. A tolerância é muito maior em determinados meios. Agora, um jovem de 19 anos, que saiu da escola aos 12, foi preso assim que completou 18 e rompeu com a família porque vendeu a máquina de lavar roupas para comprar drogas pode usar a mesma quantidade de drogas que o publicitário, mas terá uma história de vida totalmente diferente”, comparou.
A situação é agravada pela moralidade de costumes que criminalizam do consumo de drogas. “No Brasil, ainda criminalizamos o consumo de drogas. Aliás, só Brasil, Guiana e Suriname que ainda criminalizam. Todos os outros países da América Latina já descriminalizaram, o que não significa sua legalização”, destacou. Para ele, há uma percepção equivocada de que descriminalizar aumenta o consumo. “Alguns países já fizeram experiências recentes de descriminalização. Ela permite o acesso muito maior dos dependentes aos serviços de cuidados de saúde. Essa questão é absolutamente chave para cuidar das pessoas que têm problemas com drogas, pois admitir um problema com drogas ilegais em nossa sociedade significa admitir a criminalidade”, explicou.
Leon Garcia é a favor de uma política que não trate o usuário repressivamente, mas que construa uma infraestrutura de cuidados médicos e assistenciais. “É preciso pensar as políticas de moradia, transporte e educação, da possibilidade de geração de renda, levando em conta algumas peculiaridades para esse público que aparece nas grandes cidades brasileiras como a face mais visível do uso de drogas”, afirmou o psiquiatra, que vê na iniciativa canadense uma possibilidade de maior controle. “O Canadá desenvolveu um conjunto de serviços com espaços de moradia na linha de hotéis. Alguns lugares possuem mais cuidado de saúde para quem está mais debilitado, outros têm mais autonomia. Era preciso multiplicar essas experiências de hotéis pelas cidades com moradias mais distantes das áreas de consumo e distribuição de drogas”, sugeriu.
Sobre os CAPS, Garcia atesta a existência de quase 90 unidades. “Tínhamos cinco CAPS que funcionam 24 horas, em 2011. Hoje temos quase 90”, contabilizou ele, assegurando que tal aumento representa uma vitória vista pela ótica da saúde pública.
Fonte: Site http://www.escoladecontas.tcm.sp.gov.br